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SER MULHER LÉSBICA EM UMA AGÊNCIA DE PUBLICIDADE

Quando Thaisa me pediu para escrever sobre o tema “quando ser mulher foi uma questão na sua vida profissional”, concordamos que seria legal eu trazer o conteúdo sob a ótica de mulher e lésbica. Afinal, são dois grupos minorizados.

Qual a influência disso no meu eu profissional?

Falando como mulher, e apenas como mulher, sobram casos de manterrupting (quando um homem interrompe constante uma mulher, de maneira desnecessária), mansplaining (quando um homem explica algo óbvio a uma mulher, de forma didática, como se ela não fosse capaz de entender) e bropriating (quando um homem se apropria da mesma ideia já expressa por uma mulher, levando os créditos por ela). Estas são condições que qualquer mulher vai passar. Independentemente de profissão, classe, status, cor, crença.

Agora, quando penso na questão sexual, sinto que negativamente quase nunca foi um problema. Na verdade, me proporcionou boas oportunidades enquanto criativa. Tive a felicidade de criar mais de uma campanha contra homofobia e lesbofobia e, em todas elas, minha vivência pesou tanto quanto minha experiência enquanto redatora. Meu lugar de fala foi respeitado e recebi bastante autonomia.

Ironicamente, uma dessas campanhas foi premiada e vi um homem, que nada tinha a ver com a ficha, receber méritos e tapinhas nas costas [???] enquanto eu era invisibilizada. Já na outra, pude ocupar de forma natural espaços que até então nem eram destinados ao “chão de fábrica”. Não tão irônico assim foi o fato de, no primeiro caso, um homem era meu superior direto. No segundo, uma mulher. Voltando a questão de ser mulher lésbica em uma agência de publicidade, preciso fazer um recorte importante: sou redatora e sempre fui. Na criação, os “diferentes” não só são permitidos como bem-vindos. É o esteriótipo do descolado, disruptivo, criativo. Ficamos bem no instagram.

Mas e seu eu tivesse escolhido outro setor?

Atendimento, mídia, marketing.Tenho motivos para acreditar que as coisas seriam diferentes. Poucos aspectos meus podem ser encontrados no conjunto de normas que gosto de chamar de “feminilidade”.  No entanto, ser feminina sempre foi um dos pilares da minha identidade. Sempre me senti profundamente feminina, a despeito de algumas opiniões, principalmente masculinas. Isso só nunca teve a ver com maquiagens, esmaltes, babados e rococós. O que se normalizou como pré-requisitos para estes cargos.Por sorte, cai na criação e de lá gostei. Mais sorte ainda é o fato de eu ser uma mulher lésbica privilegiada. Privilégio de ser branca, família classe média, escola particular, faculdade de publicidade e que parou num setor que, no geral, permite que eu seja eu. Mesmo com a voz sutil do machismo tentando nos silenciar todos os dias com seus mansplainings, manterruptings e bropriatings.

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